Pátios superlotados, leilões parados e famílias em desespero: A omissão do Governador Tarcísio de Freitas à frente do Detran – SP mergulha o setor em caos, falências e abandono.

“Isso não é mais crise. É calamidade. Estamos sendo deixados para morrer à míngua.” Com essa frase, Wilson Jorge Saraiva, presidente do SEGRESP (Sindicato das Empresas de Guincho e Resgate), resume o drama que hoje sufoca os pátios de veículos apreendidos no estado de São Paulo por falta de realização de leilões.

Mais de 350 mil veículos se acumulam em 230 pátios espalhados pelo estado. O cenário é de abandono. Pneus servindo de criadouros para o mosquito transmissor da dengue, caminhões parados sem previsão de uso, famílias de funcionários sendo demitidas uma a uma. E o Detran-SP? Fechou o atendimento presencial e hoje funciona exclusivamente por meio de um sistema digital inoperante, chamado SEI – que, segundo relatos de donos de pátio, não responde chamados nem abre protocolos.

“Eles fecharam a porta na nossa cara e agora não atendem nem por e-mail”, denuncia Saraiva. “O sistema SEI deveria ser uma ponte, mas virou um muro. Ninguém nos ouve, ninguém responde. Estamos sendo ignorados.”

E enquanto isso, o Governador do Estado de São Paulo,Tarcísio de Freitas, em uma performance admirável de “gestão invisível”, continua oferecendo um espetáculo de desatenção aos problemas que assombram os cidadãos e os empresários. O que se esperaria de um governante responsável diante de um cenário tão catastrófico? A resposta está na sua ineficiência e na forma com que ignora uma das principais fontes de empregos e renda de seu estado. O que temos, ao invés de soluções, são promessas vazias e uma administração de costas voltadas para a realidade.

É até surpreendente o empenho com o qual o Governador ignora a gravidade da situação. Não é todo dia que vemos um líder político tão habilidoso em fazer desaparecer qualquer resquício de eficácia. Por que melhorar o atendimento aos cidadãos se a desorganização já se tornou parte da paisagem? Fechar as portas do Detran-SP foi só o primeiro passo de uma gestão que já deveria estar sendo classificada como uma grande “não gestão”. Para o Governador, lidar com problemas reais parece ser uma tarefa tão secundária quanto o papel que ele próprio desempenha nesse teatro de omissões.

Falta de eficiência 

A falta de uma resposta eficaz não é apenas um problema administrativo. É uma questão de respeito. Respeito com os cidadãos que, por meio de suas empresas, enfrentam não só a burocracia como também a apatia de um governoque, ao invés de facilitar, coloca mais obstáculos na vida daqueles que dependem de um serviço essencial. Quando o sistema SEI, que deveria dar suporte à sociedade, mais parece uma murada impenetrável, a sensação de impotência é inescapável. O que é, senão uma caricatura da incompetência, uma gestão que nos deixa perguntar: será que o Governador Tarcísio de Freitas sequer sabe o que está acontecendo em sua administração?

Em sua gestão, o Detran-SP se tornou um perfeito reflexo de uma administração estadual incapaz de zelar pela eficiência dos serviços públicos. São Paulo, que já foi considerado um modelo de desenvolvimento, hoje caminha para se tornar um case de ineficiência, onde cada crise é ignorada até que se torne insustentável.

E assim, mais uma vez, o Governador prefere que o caos se arraste por mais tempo. Afinal, é sempre mais fácil seguir fingindo que não há nada acontecendo, enquanto os problemas crescem e ganham corpo. Mas, se há algo de bom nesse descaso todo, é a lição clara que ele nos ensina: no Estado de São Paulo, a falta de ação é a maior das ações.

Se antes a crise estava em um patamar de alta intensidade, hoje podemos afirmar sem hesitação que a calamidade se consolidou. E quem perde, como sempre, são os cidadãos e os trabalhadores que, dia após dia, continuam tentando sobreviver a um sistema falido. O Governador, por sua vez, segue aplaudindo sua própria incompetência, indiferente aos estragos que provoca com cada decisão tomada ou, mais frequentemente, com cada decisão não tomada.

É, no fim das contas, um espetáculo digno de estudo para quem quiser entender como destruir um serviço público e a dignidade de milhares de pessoas com uma simples mistura de desinteresse e negligência.

Três trocas de diretores em 12 meses

A atual presidência do Detran-SP está nas mãos do policial rodoviário federal Eduardo Ággio de Sá, com José Lopes Hott Junior, também PRF, na vice-presidência. Apesar da experiência dos nomes à frente da autarquia, o setor mais sensível da atual gestão — a Diretoria de Educação para o Trânsito e Fiscalização, que é responsável direta pela supervisão dos leilões e dos pátios do estado de São Paulo — vive um constante vaivém de comando.

Somente nos últimos 12 meses, o cargo já passou por Milfran Evangelista Melotti (05/04/2023), Ícaro Eustáquio (08/02/2024) e, em meados de 2024, foi assumido por Anderson Poddis, também policial rodoviário federal, que anteriormente atuava como assessor da presidência. Essa instabilidade tem refletido em decisões confusas, falhas operacionais e falta de continuidade nos processos.

Mais recentemente, em 11 de abril de 2025, foi nomeado o também PRF Davi Rogério Artigas como novo Coordenador de Leilão de Veículos (CLV), cargo-chave que deveria destravar os gargalos do sistema. No entanto, a mudança ainda não surtiu efeito prático, e a situação nos pátios permanece insustentável.

A nova gestão do sistema de leilões, agora sob responsabilidade de integrantes da Polícia Rodoviária Federal, tem intensificado o caos. Até os leilões que foram realizados e o Detran já recebeu dos arrematantes, até agora o dinheiro não foi repassado para os pátios. 

Em cidades do interior, a municipalização promovida pelo Detran – SP deveria descentralizar e agilizar os processos.No entanto, vários municípios que solicitaram o convênio de municipalização estão sem resposta até agora. Na prática, o Detran – SP largou as prefeituras à própria sorte. Sem estrutura, sem verbas e sem apoio técnico, as administrações municipais enfrentam um monstro burocrático que só cresce.

“Temos mais de 100 caminhões e guinchos parados esperando o cadastramento, sem poder trabalhar. Isso paralisa toda a cadeia. Estamos amarrados, enquanto o Estado vira as costas”, relata um empresário da região de Campinas.

Segundo estimativas do próprio sindicato, a cada mês, cerca de 15 mil veículos são apreendidos no estado. Menos de 40% são resgatados por seus proprietários. Isso significa que, mês após mês, mais de 9 mil veículos se somam ao mar de carros, motos, sucatas e caminhões que invadem os pátios.

Impacto Social

Além da falência das empresas e da quebra financeira dos empresários, o impacto humano é cruel. As famílias que viviam desse trabalho agora sobrevivem com ajuda de parentes. Mulheres que ajudavam na parte administrativa, filhos que faziam manutenção nos pátios, sobrinhos que dirigiam guinchos. Todos sem renda. “Meu pátio virou um cemitério de sonhos. Tive que mandar embora meus três filhos. Hoje estamos endividados até o pescoço. Não duramos mais um mês”, desabafa um pequeno empresário de Ribeirão Preto.

Enquanto isso, o crime organizado agradece. Com o colapso dos leilões legais, cresce o mercado negro de peças e carros roubados. Lojistas que atuam na legalidade veem seus estoques encalhados e suas oficinas vazias.

E o risco à saúde pública? Imensurável. Com a epidemia de dengue em alta em todo o estado, a quantidade de água acumulada nos veículos abandonados nos pátios é um convite ao Aedes aegypti. “Já tivemos surtos. Já pedimos apoio da vigilância sanitária. Mas a quantidade de veículos nos supera. Não temos mais como controlar”, alerta Saraiva.

Outro prejuízo: o Estado perde milhões em arrecadação de IPVA, multas e licenciamento – valores que só são quitados com o leilão do veículo. Ou seja, a paralisação também compromete o orçamento público.

Poucos Leilões 

Diante do colapso, a única saída seria a realização urgente de um mutirão de leilões. “Tem que ser em massa. Precisa ser já. E precisa ser com gente qualificada”, clama Saraiva. Ele ainda lembra que o último sorteio de leiloeiros aconteceu em maio de 2022 e que muitos dos selecionados sequer tinham experiência. “Faltam profissionais, mas o Detran finge que não vê. E, enquanto isso, centenas de empresas morrem em silêncio.”

A indignação é generalizada. “Estamos sendo tratados como lixo. Investimos, geramos empregos, damos conta do que é dever do Estado. Mas agora somos invisíveis. E isso não é justo com quem trabalha com honestidade”, finaliza Saraiva, com a voz embargada.

Nota do SEGRESP: O Sindicato reitera seu apelo ao Detran-SP para que realize imediatamente um mutirão de leilões e reabra os canais de diálogo com os empresários do setor. Cada dia de inação representa mais empregos perdidos, mais riscos à saúde pública e mais um passo em direção ao colapso total.

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