Durante a quarentena, animais foram responsáveis por ajudar seus tutores a fugirem da solidão do confinamento, apontam estudos realizados

Durante a pandemia, houve uma brusca mudança no estilo de vida da população mundial. Buscando fugir do contágio com a Covid-19, a sociedade buscou mudar sua rotina para ser feita o máximo possível de dentro de casa. Em consequência disso, a saúde mental de muitas pessoas foi abalada, desenvolvendo estresse, ansiedade e até depressão. Como forma de driblar a solidão, boa parte da população se abraçou nos pets, para ser sua companhia diária. O contato com os animais de estimação ajuda a aumentar a produção de endorfina, neuro-hormônio, que ao ser liberado estimula a sensação de bem-estar, conforto e alegria — afirma a psicóloga Flavia Pitella, do projeto Terapia para TDS.
Os amigos de quatro patas normalmente estimulam seus donos a realizarem atividades saudáveis capazes de diminuir o sentimento de isolamento social, como por exemplo, passear ao ar livre e fazer exercícios. Muitas pessoas ainda afirmam que eles podem facilitar interações com outros seres humanos.
Ao que se refere ao perfil das pessoas que adotaram, aquelas que moram sozinhas são as que mais incluíram novos membros da família. Vale ressaltar ainda, que houve um aumento significativo no percentual de tutores que de fato enxergam os animais como parte da família, enquanto o índice de pessoas que os vêem como bichos de estimação reduziram.

As adolescentes Júlia e Laura ao lado da cadela Dori Louise adotada durante a pandemia (Foto: Arquivo pessoal)

Foi no período de isolamento que constatou-se o crescente número de adoção de animais. No estado de São Paulo, por exemplo, a organização não governamental União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), que fica na Zona Norte, registrou um crescimento de 400% na procura por cães e gatos.


“Muitas pessoas que não pensavam nisso estão adotando e convivendo pela primeira vez com animais e estão adorando. Nas nossas redes sociais, elas mandam fotos e depoimentos. Ficamos felizes pelos familiares e pelos animais”, _ conta a Presidente da UIPA, Vanice Teixeira.


Uma pesquisa realizada pelo Human Animal Bond Research Institute (HABRI) e a Mars Petcare, que atende às necessidades nutricionais dos animais, convocaram uma conferência sobre a relação entre o isolamento social e os pets para abordar essa questão em particular. Na ocasião constatou-se que as pessoas que se declararam solitárias eram mais propensas a ter animais de estimação. Vale ressaltar que durante a quarentena, muitas pessoas também abandonaram seus pets, na maioria das vezes alegando não ter condição financeira suficiente para criá-los. Mas à medida que o abandono acontecia de um lado, a adoção disparava do outro. Foi isso que aconteceu com o casal Amanda e Wellington, que adotou através da ONG Amigos de São Francisco, no dia 18 de agosto, o cão ‘Brutus’.


“Durante a pandemia, vimos que todos estavam contribuindo com outras pessoas em situação de risco, e muitos cachorros estavam sendo abandonados porque seus tutores haviam perdido o emprego ou tiveram que mudar para uma casa menor e não caberia o animalzinho” _ conta Amanda.

Tristes com a situação, o casal começou a pesquisar ONGs para ajudar com os cachorros abandonados e quem sabe encontrar um doguinho para adotar mais à diante.


“Buscando quem poderíamos ajudar, encontrei a foto do Brutus que me chamou muito a atenção por conta da história e da cara fofa dele. Resolvemos entrar em contato e fomos visitar! Ter adotado o Brutus nos trouxe muita alegria. Ele já é adulto e é bom saber que podemos contribuir para ele ter um espacinho no sofá quente” _ disse a tutora.

Brutus’ e o casal Amanda e o Wellinton (Foto: Arquivo pessoal)

A Covid-19 trouxe mudanças significativas para o dia a dia da população, e felizmente é possível extrair dados positivos do momento vivido. Foi durante a pandemia, por exemplo, que a ONG Petz, através do Programa Adote Petz (adotepetz.com.br), atingiu a marca de 50 mil animais adotados através do programa que busca um lar para bichinhos abandonados. A organização registrou um crescimento de 15% nas adoções em comparação ao semestre anterior.
A instituição Mars Petcare, através do programa Better Citties for Pets, divulgou resultados que ajudam a entender os principais benefícios que foram vistos. Os dados foram levantados em 2020, e descobriu que 86% dos entrevistados afirmam que os pets são grandes fontes de companhia; 78% afirmam que eles ajudam a reduzir sintomas de estresse e ansiedade; e 75% afirmam que eles diminuem a sensação de tédio e monotonia. Foi o que aconteceu com a estudante carioca Sarah Ribeiro que adotou o gatinho ‘Júpiter’ em julho de 2020. A estudante relata que, pouco antes da pandemia de fato começar, ela tinha acabado de perder uma gatinha, a Hermione.


“Foi uma perda muito sofrida, ainda mais estando presa dentro de casa, eu chorava quase todos os dias. Até que um dia minha mãe aceitou a ideia e pegamos outro gato. Eu sempre falo que ele é meu filho de pandemia” _ frisou.

Estudante Sarah Ribeiro ao lado do gatinho Júpiter (Foto: Reprodução/Lean Marques)

Sarah conta que apesar de já ter outro gato na casa, o Mingau, a adaptação do Júpiter não foi difícil. “Ele se adaptou muito rápido, acho que por ser um bebê facilita bastante. No primeiro dia já estava dormindo no colo de todo mundo, andando a casa inteira. Todo mundo ficava com cara de bobo olhando aquela bolinha de pelo que mal sabia andar” _ destacou.
Com o passar dos meses, Júpiter foi cada vez mais se tornando um companheiro inseparável da universitária. “Os meus dias tomaram propósito, ele me distraiu todos os dias desde que chegou. Ele foi e é até hoje o meu grande companheiro. Onde eu estiver, pode apostar que ele vai estar também.” _ ressaltou.
A estudante descreve a relação com o Jupiter como se fosse um filho.

“Eu não vivo sem, já saio de casa com saudade e querendo voltar. Muita gente nem entende essa minha conexão com ele, às vezes nem eu, mas é uma conexão muito forte”.

Júpiter no novo lar após a adoção (Foto/Arquivo Pessoal)

O novo amiguinho de Sarah também a ajudou se livrar dos níveis de ansiedade de uma forma geral: “Depois que ele chegou, eu dei uma desligada do mundo lá fora, já não fiquei vendo tanto as notícias que só me deixavam mais ansiosa. O meu dia começava e terminava com uma tarefa: cuidar dele. E ter esse objetivo me ajudou bastante a não ficar pensando tanto no futuro” _ finalizou.

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