O renascimento de uma profissão que une tradição, criatividade e propósito
Em um Brasil onde 77% dos consumidores buscam marcas mais alinhadas com propósito e personalização, segundo relatório da Deloitte, profissões tradicionalmente manuais ganham novo protagonismo. É o caso da costura, uma arte centenária que, mais do que sobreviver à industrialização, se adapta e floresce no novo cenário do consumo consciente, da moda circular e da valorização da autenticidade.
No dia 25 de maio, quando se comemora o Dia da costureira, é impossível não reconhecer a importância histórica e social dessa profissão. Durante séculos, mulheres passaram de geração em geração a habilidade de transformar tecidos em histórias, memórias e sustento. Em 2025, essa tradição segue viva — agora impulsionada por tendências como o consumo consciente, o reaproveitamento de roupas e a personalização de peças em um mundo onde vestir-se também é uma forma de expressão.
É nesse cenário que se destaca a trajetória da paraibana Daniella Alves, de 34 anos, costureira da Tem Jeito, rede especializada em ajustes e customização de roupas. Ela representa uma nova geração de profissionais que alia técnica, sensibilidade e visão empreendedora.
“Aprendi a costurar aos 14 anos em um projeto social, mas só fui voltar a mexer com máquinas e tecidos muitos anos depois, quando cursava a faculdade e queria fazer minhas próprias roupas e ganhar uma renda extra. Acabou que as encomendas não pararam mais”, conta. Desde então, a costura se transformou na sua profissão principal — e na sua paixão.
Para ela, o maior encanto da profissão está no poder de transformação: “Ver uma cliente satisfeita com uma peça que parecia inutilizável, ou com um caimento perfeito, é indescritível. A costura envolve técnica, sim, mas também exige sensibilidade e criatividade. É arte”.
No dia a dia, a profissional lida com desafios como prazos curtos e ajustes complexos, mas enxerga na profissão um campo fértil de possibilidades, especialmente na área de consertos e customizações. Segundo ela, a demanda só cresce, impulsionada por mudanças no comportamento de consumo, como o aumento das compras online e a valorização de um vestuário mais personalizado e sustentável. “Nem sempre a roupa comprada pela internet veste como a gente gostaria. A costureira entra para fazer isso acontecer”.
Ela destaca que serviços simples como ajuste de barra são os mais pedidos, mas novas demandas vêm surgindo: “Aplicação de colchetes para usar a mesma calça com rasteirinha e salto, por exemplo, tem sido um pedido frequente. As pessoas querem versatilidade”.
As redes sociais e a tecnologia também têm transformado a rotina da profissão, especialmente no acesso ao conhecimento. “Tutoriais, novas técnicas e tendências estão a um clique. Isso ajuda muito a manter a atualização constante”, explica.
E quando se fala em futuro, Daniella é enfática: há espaço — e necessidade — de mais costureiras no Brasil. “Essa é uma profissão que nunca sai de moda, porque ela se adapta, se reinventa e está conectada com tudo que é tendência: identidade, sustentabilidade e criatividade”.
Para ela, o papel da costureira hoje vai muito além da linha e da agulha: é ser elo entre passado e futuro, entre memória afetiva e inovação. “A gente não apenas conserta roupas — a gente ressignifica histórias, dá nova vida ao que parecia perdido e traduz no tecido a identidade de cada pessoa”, diz. Em um mundo que caminha para o consumo mais consciente, personalizado e sustentável, a costura deixa de ser apenas um ofício e se reafirma como um pilar essencial da moda, da economia criativa e da transformação social.






